quarta-feira, 18 de março de 2009

Eu virtual, na vida real

Ontem no carro, lamentei não ter um CD da Arca de Noé*. Adorava as músicas e, no meio daquele dilúvio, não teve como não lembrar do evento bíblico em si e, das músicas, em especial.

Mas sem CDs - aquele e mais nenhum -, tive que procurar no rádio mesmo algo que me distraísse. A menos que esteja atrasada - o que não era o caso -, não ligo para o trânsito. Se tem música, OK.

Andando de lá pra cá no dial, fiquei sabendo da morte do Clô e que o Sarney anda tocando o terror lá no DF. Só que chegou uma hora que não aguentava mais ouvir o rádio me contar que o mundo estava acabando. “Obrigada, hein? Se não me contasse, jamais desconfiaria”, eu disse pra ele. Sim. Eu converso com as coisas. Vocês não? Hum.

Sem muitas opções musicais, lamentei ter um celular de R$84. (pobre) Se ele fosse mais “esperto” (pobre), eu poderia jogar alguma coisa. Pensei então, em ligar para os amigos. Mas meu celular é pró-pobre (ou pré-pago. Pobre!) E o carro não é meu. (pobre). Não posso levar uma multa. (pobre!) Ah, se ele tivesse internet, então! (POOOBRE) Ficaria no MSN! Ou no gtalk. Ou daria uma passadinha no Orkut. Ou... Putz, acho que sou viciada. Mas, seria tão bom ter alguém virtual pra conversar ali no meio do caos.

Então, comecei a pensar nas minhas relações .com. Pela internet, falo diariamente com minha família, amigos, colegas de trabalho. Com a web, arrumo meus frilas, arrumo novos amigos, arrumo baladinhas com os antigos, e, às vezes, até tento “me arrumar”, se é que você me entende. ;-)

Claro que essa condição não é de todo ruim. O contato virtual facilita a vida mesmo. Posso “falar” com várias pessoas ao mesmo tempo e fazer outras coisas, também ao mesmo tempo.

Mas, por outro lado, essa facilidade acaba nos afastando do contato pessoal. Nos acomodamos com a possibilidade de encontrar todo mundo online. Mas que falta faz o jantarzinho, a mesa de bar e o olho no olho, né?

Pensando nas pessoas que conheci mais recentemente, só conseguia lembrar das tantas que me chegaram via web. E comecei a buscar na memória alguma que tenha vindo de outra forma. O mais assustador é que só lembrava de gente que eu conheci por intermédio de algum contato da rede virtual.

Isso não é exatamente ruim. Gente é gente e não importa onde eu tenha conhecido. Mas observar o quanto as relações virtuais podem “dominar” alguns departamentos da nossa vida, é bastante curioso.

Ontem, como o trânsito não andava mesmo, e eu tinha tempo de sobra para pensar, comecei a lembrar que até meu último namoro teve muito de virtual. Especialmente no começo. Eu o conheci na balada. O que é, praticamente, um milagre de Santo Antonio. Mas, naquele dia mesmo, trocamos e-mail. Mas telefone não. “Sinal dos tempos”. E posso dizer que me encantei primeiro pelo cara dos e-mails. Isso, claro, tem muito a ver com o meu perfil. Eu preciso ler as pessoas. Me parecem muito mais interessantes e eu tenho a oportunidade de ver se existe afinidade intelectual. Ok, eu não devo ser muito normal, mas sou assim.

Só que, é claro, especialmente quando o assunto envolve amor, relacionamentos afetivos, sexo, ou o nome que se queira dar, o contato pessoal é, obviamente, fundamental. Eu posso ficar dias de papinho virtual. A vontade de tocar é proporcional ao quão interessante é o papinho. E dá faniquito! E é preciso mesmo ver logo. Porque o outro lá pode não ser tão interessante pessoalmente. Pode, sei lá, ter uma risada estranha, pode ser baixinho, ou pode, por exemplo, ter no Orkut uma foto do século passado e, hoje em dia, usar, deusolivre, bigodes! Conhecer pessoalmente seria ótimo para desfazer a fantasia. Mas se, ao contrário, ele for realmente aquilo tudo que eu acho, eu terei que aprender a conviver com o que pode vir a seguir - incluindo-se aí, a possibilidade de não vir nada.

O fato é que eu não sei lidar muito bem com essa coisa 100% virtual. Tenho amigos queridíssimos que conheci online, mas quero tanto ver pessoalmente. É tão mais legal abraçar do que escrever “Então até. Bjs” no fim do dia.

Tive ainda mais certeza disso ontem. Depois de cansar daquele anda-para, anda-para, resolvi procurar alguém de carne e osso que me salvasse.

E olha que não foi nada fácil. Quem tentou usar o celular, sabe que eles também estavam confusos. Porém, depois de umas 30 tentativas (de verdade), finalmente consegui falar com gente que estava por perto e, assim como eu, com disposição total para esticar a noite longe do trânsito. E então, foi bar, cervejinha e música animada até achar que o mundo fora dos limites do Geni Club já teria voltado ao normal. Não foi bem assim. Quando saí, já era quase hoje, mas ainda tinha trânsito.

Mas, enfim... Voltei ao rádio, agora mais otimista e feliz por ter visto gente boa e divertida. E pensei que deveria fazer isso mais vezes. É isso mesmo. Hoje vou sim encontrar meus amigos que estão desde o começo da semana combinando (por e-mail, claro), um baladinha pra logo mais.

*O projeto musical dos anos 80 continua lindo até hoje. Procure no google. Se vira um pouco.

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