sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Tudo bem, vamos tê-lo*

__ Tô pensando em congelar... , - disse antes de tomar o último gole do chope.
__ Seus óvulos?!?!? Tá louca, né?? – respondeu a amiga quase engasgando.
__ Outro dia vi na TV. A moça tem 32 e já congelou. E olha que ela é casada... Ca-sa-da!.
__ ..., - a amiga. Agora quieta. Elas duas e a moça da TV têm a mesma idade.
__ Se bem que eu falei isso pro meu ginecologista e ele reagiu como você: “tá louca!?!?!?”. Aliás, foi pior que você. Ficou rindo da minha cara, o sacana!
__ Pois é! A medicina está muito avançada! Hoje tem mulher com mais de 40 tendo filho! E nós, ao contrário de nossas mães, estamos primeiro investindo na carreira. Além disso, a gente quer aproveitar a vida ao máximo, conhecer gente, viajar, beijar muito na boca e se divertir antes de ter um filho e um marido e uma casa e um tanque de roupa pra lavar e... – como quem procura desculpas pra si mesma, a amiga se empolgou e despejou o senso comum - muito útil nesses momentos - na mesa do bar.
__ Ai! Tanque não! Para, vai! Que eu acabo desistindo de filho quando lembro que o marido, a casa e tudo o mais vêm junto... – e pediu a conta.
__ Ah! Mas tem que ter marido. É mais legal se for assim, direitinho...
__ Sei não...
E pagaram os chopes.
__ Tchau, gata.
__ Beijo.

E foram embora. Cada uma pro seu lado.

Engraçado isso. A primeira é do tipo que só namora. E leva em casa. E conhece os pais dele. E fica amiga das cunhadas e da sogra. É também do tipo que fica meses sem se envolver com ninguém. Sem beijar ninguém. E sem etecétera com ninguém, especialmente. Ela explica que faz isso pra se preservar. Mas na verdade, é pra preservar os meninos mesmo. Porque cai de amores. Se apaixona louca e desesperadamente. Então é melhor que tenha moderação. Por favor!

Já a amiga é mais “desencanada”. Do tipo que acredita existirem homens pra casar e outros, não. E curte os que não são até aparecer aquele que é. E realmente pensa em casamento. No cartório e na igreja, como diria Seu Jorge.

No MSN, no dia seguinte, falaram sobre isso de novo:

Uma diz:
... ah, eu acho q não precisa do marido não. Toparia linda uma produção independente. :D
Outra diz:
Eu quero tudo direitinho. Casamento, casa, marido, filho, batizado...
Uma diz:
Ai que preguiça...

Deve ser uma fase. Ela já quis isso tudo. Teve um “noivo” até, vejam só. No tempo em que as pessoas noivavam. Faz muito tempo, claro. Foi no século passado. E depois do noivo, vieram várias outras tentativas. E ela encontrou até o pai perfeito para os filhos que quer ter. Mas ele, como o noivo e os outros todos, foi embora. Deve ser por isso. Cansou, a pobre. E agora fica achando (ou tentando se convencer, quem sabe) que é muito complicado isso de ver todo dia, conviver, dividir a vida, a cama, o chuveiro e o filho. Todo dia e “pra sempre”.

Se bem que do jeito que escolhe, vai acabar mesmo tendo é que recorrer a um banco de esperma. Ou a um amigo gay.

Hum. Acho que ela tem que começar a sair mais com a amiga e aprender com ela algumas coisinhas. É como em Economia. Não se deve depositar todos os ovos numa cesta só. É como no poker. Não se apostam todas as fichas num jogo só.

E vai pro MSN:

Uma diz:
Amiga? Vc tá aí? Qual é a boa pra hj à noite?

*Os mais observadores já repararam que somente em excessõezissímas (neologismo by Chico Buarque) eu não uso trechos de músicas como título. Este verso é de uma do Frejat.

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