sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Minha mãe mandou escolher este daqui!

Outro dia, lá estava eu na cabine. Número xis (não vou contar, é secreto) e confirma. Assim. “Fácil”. Escolhi. Votar pra mim sempre foi um prazer. Comemorei quando fiz 16. Naquele mesmo ano, alguém “lá em cima” permitiu que meninas como eu que há pouco tinham “debutado”, pudessem escolher. E começou logo de cara com presidente! Achei lindo. Pintei a cara quando fui solicitada, fui pra Paulista quando o país precisou! Me sentia participando.

Sim, pessoas. Eu adoro votar. É muito bom pensar que tenho algum poder de escolha nessa democracia. Chinfrim, mas ainda uma democracia. Hoje eu penso assim, mas aos 16, achava que realmente eu poderia mudar o mundo. Até por isso, fiz Jornalismo.

“Embora não conste em nenhum Manual de Redação que o jornalista tem, entre outras, a função de acabar com a fome, sempre é bom poder ajudar alguém com aquilo que a gente escreve”. Foi isso que o Ricardo Kotscho me disse um dia. Na verdade, ele escreveu num livro (A Aventura da Reportagem) e me inspirou por anos. Eu imprimi. E pendurei na porta do meu guarda-roupa. E a frase ficou lá até amarelarem. Sim, no plural. Amarelaram ela, a página e as minhas ilusões com a profissão. Ok que sendo jornalista eu posso sim, ajudar alguém. Mas todo mundo pode. Até os cachorros. Aleluia! Nós, os jornalistas, não somos assim tão bons e poderosos. (Alguns ainda insistem em acreditar que são). Só que para ajudar, de fato, você tem que se mexer muito. E até votar, ué.

Mas eu vim aqui hoje pra falar sobre escolhas. Essa que você (espero) e eu fazemos na cabine de votação e tantas outras todos os dias. Do nascer ao pôr do sol. Na frente do espelho de manhã. Na hora do almoço de frente pro bufê do quilo. E lógico, temos ainda as escolhas mais difíceis: mudar ou não de emprego? E de país? E de namorado? E de sexo? NÃO! Eu não quero isso, mas tem gente que quer e nós, jornalistas, temos que respeitar a todos... ;-)

Tenho saudade do tempo das opções simples: Pica-pau ou Moranguinho, Barbie ou Suzi, bolinho Ana Maria ou Bebezinho... Ser criança é uma delícia. Mas mesmo elas gostam de escolher. Lembro do meu ‘”irmãozinho” na lanchonete. Quando começou a ler, pedia o cardápio e lia. INTEIRO e com a velocidade característica dos recém alfabetizados. Ou seja, eu morria de fome e de sono, até ele terminar chegar à contracapa do negócio. E no final, não tinha jeito: “quero misto quente e guaraná”. Ai que saco! Se vai pedir sempre a mesma coisa, porque tem que demorar tanto, esbravejávamos minha irmã e eu. Nós já éramos “grandes”, pô! Mas o que não entendíamos naquela época é que existe um prazer na escolha. Essa sensação de poder decidir é ótima. Mas tem também o outro lado da questão. Quando meu irmão escolhia seu lanche, abria mão do xis salada, da coca-cola e de todos os outros itens do menu.

É exatamente o que acontece quando a gente escolhe o que quer que seja. A roupa da balada definida, faz com que todas as outras mil opções do meu guarda-roupa sejam preteridas. Quando escolhi o Jornalismo, abri mão de outras centenas de opções. O namorado que eu tive (os, na verdade), me impediram de beijar outros milhões de homens que insistiam em ficar no meu pé (hehehehe “sweet illusion”).

Por isso que escolher é tão difícil. Às vezes, você opta por ficar com ele - seu amor -, ao invés de ir ao barzinho com seus amigos. E então, eles, seus parceiros de verdade, um dia também irão escolher qualquer outra coisa ao invés de ir aos seus programas. É a lei da reciprocidade. Bateu, levou. Ou não. Vai ver realmente, eles só tenham achado que ir à palestra sobre “A-influência-do-pensamento-marxista-no-comportamento-de-crianças-que-assistem-ao-Ben10” (ou merda que o valha), não seria assim tão legal.

Está aí outra coisa ligada as suas escolhas. Elas determinam quem você será. Porque eu escolhi ser jornalista, porque eu gosto de votar, porque eu não namoraria, por exemplo, um malufista (ok, eu já fiz isso, mas estava (sou) carente), eu gosto de ir a palestras chatas e assistir ao Café Filosófico de domingo à noite. Só não sei o que veio primeiro, o ovo ou a galinha, entende? Eu gosto de votar porque sou assim, ou eu sou assim, porque gosto de votar. Sei lá.

Enfim, minha gente, às vezes, a escolha é grandiosa, como o sanduíche do meu irmão. Em outras, é banal, como o XX que eu vou digitar novamente no dia 26 antes do botão verde.

Tem também os momentos em que a escolha é muito difícil mesmo. Como ontem à noite. Jantei com meus pais, irmã e cunhado, pra não ir a determinado lugar. Ter ido, seria ótimo. Mas voltaria atrapalhada, confusa, e teria (mais) uma recaída. É o preço das escolhas. Tem vez que dói. Mas depois, você até pode falar – ufa, que bom! Sobrevivi.

Bom dia! E me traz um misto quente e um guaraná, garçom!

10 comentários:

Unknown disse...

Escolher nunca é facil, Principalmente no nosso caso né??
Mas o q me dá mais certeza é q, por mais q escolhamos algumas coisas, outras já nos foram postas por Algo Maior!
E vc é uma delas!!
NEOQUEOVO!!

Anônimo disse...

Parabéns, muito bom!!!
Acabei de virar Malufista, assim me livro de vc...


Créu,
Homem Melância

Renata Marques disse...

Ter opções é bom, mas às vezes tb dá uma preguiça...às vezes tenho vontade que escolham tudo por mim. Vai ver é pq sou indecisa...rs
Mas vc tem razão. O fato de podermos escolher nos dá uma liberdade que nem sempre sabemos valorizar. Mesmo quando optamos pela pior opção, vale a lição. Até rimou...rs

Texto excelente, como sempre.

Bjos!

p.s: tenho até calafrios de lembrar do nosso querido irmão lendo o cardápio...rs

Luciano Lazo disse...

Sinceramente, detesto votar... Mas assim, não é o ato em si, não é a questão de que "todos são farinha do mesmo saco", não é apatia, não é por causa da lei seca (que, aliás, como tantas outras em nosso país, é pra inglês ver...), não é por ser anarquista, punk, macumbeiro, oscambau. É pura e simplesmente por uma coisa: votar não é uma escolha para nós.
A cada dia que passa vejo o quanto o nosso Brasil sil sil é paradoxal:
1 - prostituição é crime, mas vem uma "prima", escreve um livro dizendo que é "prima", ganha uma puta grana dos otários e tudo bem, aparece na mídia, etc... Nada contra as prostitutas, muito pelo contrário: acho que elas prestam um grande serviço à humanidade e deveriam ser reconhecidas como uma verdadeira profissão no mundo inteiro! Agora, imagina se eu escrevo um livro falando que sou estelionatário, contando com detalhes os golpes que apliquei... Será que eu vou pro Domingão do Faustão ou pro Cadeião de Pinheiros???
2 - Nosso país é tão democrático, mas TÃO democrático que você é OBRIGADO a exercer a sua cidadania! Olha que legal: nem ser omisso a gente pode! rs Votar é uma obrigação e, na minha humilde opinião, toda e qualquer tipo de obrigação desce retangular pela garganta (e na horizontal!!! rs).
Por esses (e tantos outros) motivos é que eu detesto votar. E só vou gostar de votar no dia que esse ato for feito por minha livre e espontânea vontade, não por ser uma obrigação.
Ótimo texto, como sempre.
Bjs,

Lu

Anônimo disse...

Seu texto me deu fome. Vou até a padaria comer alguma coisa e depois volto pra comentar.
Se demorar, é porque estou vendo no cardápio o que peço.
bjo

Renata Marques disse...

hahahahahaha
o comentário do Otinho foi o melhor...rs.

Meu marido é revoltado, hein? rs
Eu gosto de votar tb, mesmo sendo obrigatório.

Bjos.

Anônimo disse...

Muito bom mesmo Dã!! Principalmente a parte que fala do meu marido querido...rs...rs...e agora a gente anda a praça de alimentação do shopping inteira, pelo menos umas duas vezes, antes dele decidir onde vai comer...rs...rs...
Eu também gosto de votar...mas infelizmente, não poderei votar no segundo turno...então, por favor, votem por mim!!
Beijos!!
Adri

Anônimo disse...

Como é bom quando algumas situações cotidiana nos afligem, pq de repente se torna em textos excepcionais como esse, rs!

Dani Marques disse...

Tanta gente, sempre presente e sempre tão gentil!

Desculpa demorar pra responder, mas ando a mil.

TanX,
Beijo
Dani

Cá Minervino disse...

Viver é escolher...
Talvez essa seja a lição mais dura da nossa vida, saber que não podemos ter tudo, que sempre a escolha é uma exclusão de mil possibilidades.

O que possa nos confortar é escolher sem arrependimentos, é saber que nem sempre será a "mais acertada".

Aprender a VIVER a vida nas sua "tragicidade", na intensidade dos Momentos e dar leveza às escolhas...

Trabalho difícil, mas quem disse que era fácil?!

Daniiii....amei suas palavras..incrível como as vezes as pessoas estão pensando as mesmas coisas...rs

T adoroO