segunda-feira, 10 de abril de 2006

Quero uma vaga na Soyuz. Só de ida!

Depois de tanto tempo, volto aqui... Antes fosse num momento de inspiração mais agradável e positiva. Mas, ao contrário do que gostaria, hoje me obrigo a contar uma história que de fato me aconteceu e que não foi nada agradável.

Não me considero uma pessoa ingênua ou desinformada. Mas no sábado à noite, vivi uma situação que me tirou do eixo.

Estava sozinha na casa dos meus pais. Eles, o que praticamente nunca acontece, saíram pra jantar sem mim. Tinha outro compromisso e me arrumava esperando por uma amiga, quando o telefone tocou. Do outro lado, um homem se identificou como sargento da CET e disse que tinha acontecido um acidente muito grave na Vila Fomosa (bairro onde meus pais moram) envolvendo minha família. Como meus pais tinham saído com a minha irmã e cunhado, logo imaginei que seria algo com eles. A tortura psicológica é tão bem armada que ele ia me perguntando quem poderia estar envolvido no acidente, me pedia descrição das pessoas e dizia ir até o carro confirmar se eram eles mesmo. Nisso, ele me pergunta se teria alguém pra me acompanhar até o lugar do acidente. Essa parte da tortura durou certa de 10 minutos até que eu estivesse totalmente convencida de que algo terrível pudesse ter acontecido com eles.

Nesse momento, outro homem assume o telefone e diz que minha família corre perigo de vida, mas não pelo acidente e sim porque aquilo se tratava na verdade de um seqüestro. Eu, totalmente fragilizada e envolvida naquela farsa, devo ter me sentido de certa forma, aliviada, porque imaginei que se não era um acidente e eles estavam vivos, eu tinha a chance de salvá-los.

Começou então, um exaustante e longo processo de uma suposta negociação. Primeiro, o cara pediu R$ 25 mil que ele supôs que eu poderia ter em casa. Nunca sequer vi tanto dinheiro assim. Enfim... Disse a ele que não tinha esse dinheiro nem no banco. Ele então queria dólares, jóias, equipamentos eletrônicos, qualquer coisa que pudesse valer algum dinheiro. A essa altura, eu estava totalmente na mão deles, com os dois telefones da casa dos meus pais e meu celular, ocupados com ligações deles. Ao ouvir o segundo telefone do meu pai tocar – provavelmente seria minha mãe – ele pediu também esse número e gritava coisas simpáticas como “passa o número, se não eu vou esquartejar toda sua família”. O celular, ele pediu porque eu deveria pegar tudo o que encontrasse e colocar numa bolsa, sair de casa naturalmente, tomar um ônibus e metrô e encontrar alguém que me levaria até a minha família. Isso o tempo todo em contato com ele.

Eu, que tenho pavor de assalto, já tive uma arma na nuca e já fui alvo de um tiro, graças a Deus mal dado, estava morrendo de medo, sem cor, tremendo da cabeça aos pés, mas pronta pra sair quando ouço chegar no portão minha amiga que me buscaria pra sairmos. Apavorada, com as luzes todas apagadas, sem atender a campainha, fiquei aguardando ela ir embora pra poder pegar o tal ônibus e com o bandido me torturando psicologicamente pelo telefone.

Foi então, que por sorte, milagre ou sei lá o quê, ouço alguém mexendo na porta. Na hora, corri para a cozinha com medo que o cara, do outro lado da linha, ouvisse o barulho e continuasse com as ameaças. Escrevi um bilhete e passei por baixo da porta. Nisso, meu pai entra também muito assustado e eu escrevo novamente para que ele ligue pros meus irmãos porque mesmo os vendo ali na minha frente, ainda não conseguia acreditar que estivesse tudo bem. Estava em pânico e não conseguia voltar à razão. Minha amiga querida, que tinha entrado junto com meus pais, me obrigou a desligar o telefone.

Nisso, despenquei no chão e tive uma crise nervosa. Fiquei dura, torta, praticamente sem sentidos.

Os desgraçados (e lamento usar esse termo), ainda ligaram várias vezes em casa até que meu pai desligasse os telefones direto na caixinha... Mas agora, mais calma, agradeço a Deus que meus pais tenham chegado naquela hora, porque se demorassem mais 10 minutos, eu totalmente insana, teria pego o tal ônibus e hoje não sei se estaria aqui, porque não faço a menor idéia do que teria que enfrentar no tal encontro.

Bom, sinto muito por me expor desse jeito, sinto muito contar algo tão indigesto e me envergonho por ter me descontrolado tanto e, mais ainda, por ter caído em golpe amplamente divulgado. Mas fiz isso com o intuito de alertar sobre essa nova “modalidade” de crime que envolve essa história de acidente de trânsito. Com uma habilidade assustadora, fui primeiro nocauteada psicologicamente pra depois ser devidamente enrolada.

Lamento profundamente que isso tenha acontecido comigo e, que mais uma vez, minha crença no ser humano tenha sido abalada. Eu, que desde sempre acredito que a reabilitação de um criminoso passa pelo respeito e reconhecimento das circunstâncias que o levaram até ali, e que até profissionalmente tenho procurado divulgar ações nesse sentido e que, mesmo na faculdade tenho (ou tinha, pretendo abandoná-lo de vez) um projeto de conclusão de curso nessa linha, me sinto injustiçada por ser novamente vítima de algo de tamanha crueldade.

Dessa vez, sinto-me especialmente assustada e acho que parte da fé que tinha nas pessoas se perdeu, provavelmente de maneira irremediável. Assim que me sentir um pouco melhor, vou fazer um boletim de ocorrência. Apesar de também não acreditar em mais essa instituição, acho que é meu dever de cidadã registrar o que acontece no mundo real, enquanto membros do Legislativo, Executivo e do Judiciário vivem um mundo de fantasia e total desrespeito à população, permitindo inclusive que esse tipo de absurdo aconteça. Culpado não é só o bandido que me ligou. Culpados também são esses homens e mulheres que, sob a proteção do Estado e em seu nome, fazem o que querem nesse país. Única e exclusivamente em benefício próprio, enquanto embaixo dos seus lustrosos narizes, esse tipo de barbaridade, entre tantas outras ainda mais graves, acontece aos montes dia após dia.

Sei que somente o amor que a gente tem pela família e o carinho que a gente recebe de amigos nas horas mais difíceis são as coisas que ainda podem nos salvar da total desesperança.

12 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, Dan...
Nos deparamos com situações que até então só aconteciam com os outros.
Infelizmente estamos a "mercê", completamente abandonados e indefesos diante disso tudo.
Fiquei chocada no sábado.
Mais uma vez é agradecer a Deus, pq só ele mesmo para nos SALVAR disso tudo.
PAZ!
Tesolin

Dani Marques disse...

É mesmo, Dan Dan...
Mas o que seria de mim, sem vocês?
Amo muitooo
Bjos

Zagaia disse...

Gente!! Que power!! Bom, sorte que vc saiu ilesa e é isso que vc tem que agradecer!! Do resto nega, a gente só leva lição!! Não deixe de escrever!!

Bjo

Renata Marques disse...

Dói pq a gente se sente bobo, fragilizado, e porque é nessas horas que lembramos que a violência (de qq. tipo) está aí pra todos, infelizmente. Mas Papai do Céu é muito bom e não permitiu que vc saísse. Só isso importa pra mim, pelo menos por hora.

Se cuida!! E escreva mais, trazendo pra gente aquela felicidade de sempre. Pq só assim, tornando nossas vidas alegres, é que conseguimos nos afastar um pouco da loucura do mundo.

Te amo muito!!!

Bjos.

Anônimo disse...

karaio Dani, que susto!
falar o que desse bando? Será que merecem o ar que respiram?

bjinho
Fernando

Anônimo disse...

Dani! Não consigo encontrar palavras para descrever o q senti após saber da sua experiência. Infelizmente, acho q não há mais solução. O limite ficou pra trás. Tudo agora segue ladeira abaixo. Espero de coração q vc se sinta melhor agora. Não pq algo mudou ou pq nunca mais acontecerá. Mas pq vc ainda se choca com a barbaridade em que nos encontramos. A maioria de nós sequer repara q não há mais qualquer vínculo com o q chamávamos de civilidade. O q me entristece não é a impossibilidade de encontrarmos uma solução para isso, mas a certeza de q as causas dessa insanidade estão na essência do "ser" humano.

Fique bem!

Beijo!

Anônimo disse...

poutz dani...
sinceramente, nem sei o que dizer
=\
apenas te estendo meu apoio pro q for...
beijos!
melhoras aí!!!

Anônimo disse...

Olá, passamos por uma situação parecida com a sua na empresa onde trabalho, entrou uma ligação em uma manhã, isso a cerca de um mês, que chegou na diretora da empresa (um suposto sequestro do filho), e ela acabou passando várias informações para o bandido como o nome e idade do filho dela. Com a tortura psicológica eles conseguem as inf que precisam, aqui a farsa terminou pq conseguiram falar com o rapaz na faculdade dele... é chocante. Estamos sendo assaltados até por telefone. : (

Dani Marques disse...

Ju,

Ilesa sim... Pelo menos fisicamente, né? ;) E sem dúvida, aprendi uma lição, mas espero que isso não me torne uma pessoa amarga, cética e dura...

Rê,

Me senti sim a mais boboca... Como posso ter caído num troço desses é o que me pergunto até agora... Mas parte do meu desepero se deu em pensar no pai e na mãe e em vc. Achava q vc poderia estar com eles e passando mal. Surtei mesmo! Bom, mas passou e agora eu tô só carente. Quero canjica pra superar, ok? hihihi Xau, filha

Fê!!

Que saudade! Pois é, menino! Cada uma que a gente passa que parece mentira, hein? E realmente me pergunto se esse tipo de pessoa é de fato digno desse título! Credo!

Jony,

Então, querido! Eu tenho medo justamente de perder totalmente a crença nas pessoas e acabar generalizando. Tô tentando não deixar isso acontecer. Mas é óbvio que estamos assistindo um assustador processo de desumanização das pessoas... Que medo que dá, viu?

Bruno,

O que mais eu posso querer numa hora dessas além de apoio? Realmente o que aconteceu é pra nos deixar mesmo sem saber o que pensar, fazer ou falar...

@NNY

Infelizmente esse tipo de absurdo tem acontecido com uma frequência surreal. E o pior é q a gente lê que tal quadrilha foi presa não sei aonde, mas os casos continuam pipocando. Esses marginais fazem escola, viu?

Queridos, se existe um saldo positivo nessa história é o carinho que recebo da família e de amigos distantes, presentes, novos, antigos... Enfim, de pessoas que me afagam com palavras gentis e com solidariedade.

Beijos a todos

Ana Téjo disse...

Dani,
Que babado forte, hein, fia? Pelamordedeus!
Fiquei chocada, bestificada, horrorizada e incrivelmente noiada. Lendo o que você escreveu, vejo como estamos incrivelmente expostas. Já parou pra pensar no tamanho que exposição que é um blog, por exemplo?
Você me botou pra pensar, menina. Será que vale a pena?
Beijos,
JU...

Anônimo disse...

Oi Dani!
Achei seu blog num link do site Delas, do Ig. Viciei nos seus textos. Na verdade, comcei o meu proprio blog ha pouco tempo... depois de ter perdido um flog por falta de atualizaçao. Mas eh que tambem, ninguem lia.
Amei essa do Seu Jorge. E quando vc falava dos lugares que passou, um mundo de memorias passou pela cabeça!
Se puder me visite. Beijo!

Dani Marques disse...

Ju,

Infelizmente, isso tem acontecido aos montes. Depois que rolou comigo, várias pessoas me relataram situações iguais ou parecidas. Acho que o negócio é se prevenir, viu? Pelo menos num golpe desses eu não caio mais.

Agora, acho que no blog, talvez a gente se exponha sim, mas não é isso que conta na hora desse tipo de tentativa de extorsão. De qualquer forma, é legal tomar cuidado com o que "fala" aqui e principalmente no Orkut, né? O que que vc acha?

Simony,

Às vezes ninguém lê mesmo. É natural. Claro que receber o feed back é legal, mas escrever tem que ser um exercício prazeroso especialmente pro autor. Eu, só consigo escrever quando tenho alguma inspiração ou motivação mto forte, mas o legal mesmo é escrever sempre pra treinar, sabe? Bom, eu daqui do meu lado, vou tentar escrever mais... E com certeza, ler mais também... Isso ajuda a me inspirar... Vou lá no seu já já... Seja bem-vinda.

Bjos