quinta-feira, 27 de abril de 2006

Cadê o Caixa Alta?

Nhuaaaamm! Suspirou enquanto se espreguiçava logo ao acordar. Sorriu ao se encolher e virar pro outro lado para poder enrolar mais uns minutinhos na cama. Só quando se sentiu um pouco mais desperta, levantou-se, foi até a sala, ligou a TV para ouvir o noticiário enquanto preparava o café. De volta à sala, ainda de pijama e pantufas, sentou com o pão integral numa mão e a xícara de leite com Nescafé na outra. Um dia desses preciso aprender a fazer um café de verdade, pensou.

Olhando pra tela, sem prestar muita atenção no que via, percebeu que sua gata a fitava esperando por qualquer sinal que lhe autorizasse a pular em seu colo. Deu dois tapinhas na perna, ainda sem tirar os olhos da TV e, logo a gatinha se aninhou e lá ficou até que o último gole de leite fosse entornado.

Agora vou tomar banho. Disse pra gata quase adormecida enquanto se levantava. No chuveiro planejou rapidamente o que tinha pra fazer naquele dia. Depois de longos minutos sob a água morna, sentia-se pronta pra enfrentar um ônibus lotado e um dia, idem.

Quando acordava com aquele bom humor inexplicável e quase irritante, divertia-se usando o transporte coletivo. Adorava observar as pessoas e tentava imaginar o que cada uma fazia, pra onde ia ou de onde vinha. E assim ia, de olho em tudo e com a cabeça no nada.

Já na sua mesa e, após encontrar os "colegas de trabalho", caras ao mesmo tempo tão conhecidas e com quem, na maioria, tinha tão pouca intimidade, revisou mentalmente o que tinha pra fazer e começou seu trabalho. Ok... Até parece muita coisa, mas eu dou conta, sussurrou pra si mesma.

Foi assim durante todo o expediente. Horas a fio resolvendo coisas, falando com pessoas, executando tarefas. No meio do dia, lembrou-se do Chaplin no filme "Tempos Modernos". Sim, seu trabalho era muito menos operacional, mas por fazer aquilo desde sei lá quando e sempre da mesma forma, sentia-se muitas vezes como se estivesse no piloto automático.

Enfim, o dia útil termina. E novamente no ônibus, tentava imaginar quem era e o que fazia toda aquela gente.

Chegou em casa. Brincou com a gata. Fez o jantar. Comeu. Lavou a louça. Assistiu novela. Leu uma revista. Ligou pra uma amiga. Viu metade de um filme antigo na TV. Tomou banho. Arrumou a cama. Brincou de novo com a gata. E foi dormir.

Ahhhhhh... Que vida tranqüila. Nada de incomum aconteceu naquele dia... Tudo no lugar, tudo em paz, tudo tranqüilo, tudo nos eixos, tudo sob controle... Humpft... Ai que tédio, resmungou com a cara enfiada no travesseiro.

E sentiu-se nostálgica quando lembrou que há algum tempo, seus dias possuíam um elemento que deixava tudo com outra cara. Antigamente, ela vivia apaixonada. Era essa diferença. E quando isso acontecia, nenhum dia era como aquele.

Se estava feliz e era correspondida, sua rotina seria colorida com ligações, e-mails ou msns carinhosos. Suas noites poderiam ser mais divertidas com alguns beijos e, quem sabe, outro par de pés embaixo do cobertor.

E mesmo que fosse num daqueles casos (mais comuns, é verdade) em que gostava sozinha e sofria e se descabelava e chorava quase a ponto de poder torcer o travesseiro e acordar com olhos inchados, com olheiras chegando nas bochechas, ainda assim, sentia falta de alguém em quem pensar antes de cair no sono.

Nessa hora, começou a puxar pela memória pensando se teria alguém por quem pudesse se reapaixonar. Hummm... Fulano é gato, mas me traiu, o outro me ignorou solemente. Teve também aquele que parecia um tudo, mas na verdade era um bosta.... Não, não... Era uma péssima idéia tentar ressuscitar um amor antigo. Tudo bem que seria legal ter alguém pra chamar de seu, mas masoquista ela não era. E afinal de contas, desde sempre desejava e julgava merecer, um HOMEM assim todo caixa alta. Completo, íntegro, repleto e pleno.

E sendo lúcida, mais até do que realista ou pessimista, admitiu pra si que a maioria dos meninos e homens com quem tinha se envolvido nos últimos tempos, estavam bem longe do que julgava ideal. Pensando nisso, entendeu que já estava bem na hora de ser mais legal pra si mesma e buscar o que realmente gostaria de encontrar em alguém com quem valesse à pena dividir o cobertor. Até porque, ele tinha que ser bom o bastante pra merecer ficar com o lugar da gata que, deitada ao seu lado, ronronava inocente sem saber que sua paz poderia estar prestes a ser abalada. Ah, mas vai ter que ser muito incrível mesmo, né Branquinha?. E virou-se pro lado, torcendo por se apaixonar logo no dia seguinte e dar uma agitada na sua vida.

Obs: Apenas baseado em fatos reais. A autora admite que nunca lava a louça logo depois do jantar.

7 comentários:

Renata Marques disse...

Dan,

Adorei! Nada como revirar a cabeça, pensar, pensar bosta, espantar o pensamento, pensar mais um pouco e chegar a conclusões tão boas, que te deixam tranquila o suficiente pra ter a certeza que o HOMEM chega, e não demora.

Bjos com muito amor de irmã com TPM melancólica e emotiva.

Rê.

Anônimo disse...

Realmente Dan,
chegou o nosso momento. O momento de ter alguém que mereça a gente. Chega de achar que somos sempre as ideais, as perfeitas para eles, sempre eles, eles, eles...
Que tal estar disponível para alguém que tenha a FELICIDADE e o MERECIMENTO de ter alguém, como NÓS, ao seu lado, hehehe.
Daniiiii

Anônimo disse...

Hahaha... nossa, como eh verdadeiro isso que vc escreveu, Danni!
Nao sei se eh pior se apaixonar e depois sofrer ou se eh pior nao estar apaixonada e nao ter por quem se apaixonar.
Amei o texto!
Bjo!

Dani Marques disse...

Rê,
Pensar bosta é comigo mesmo! hehehe Pode ser sim que esse HOMEM chegue, só que é engraçado pq o fato de não estar mais me apaixonando por qq passante,deve ser pq eu tenho estado bem comigo, né? Vai ver que antes queria alguém pra suprir esse sentimento de bem estar... Sei lá... Tô tentando me entender... ;)

Dan Dan,
Chegou muito o nosso momento, gata! E olha, demorou, hein? Mas que nós somos ideais e perfeitas, isso ninguém pode negar!! Uhuuu!

Simony,
Apaixonar-se é ótimo! É uma delícia o friozinho na barriga, acordar com a imagem do cara na cabeça, dormir assim também... Mas o maior problema de se apaixonar é que a gente acaba idealizando demais e a pessoa passa a existir daquele jeitinho que imaginamos só mesmo na nossa cabeça... Complicaaaadooo!!

Bjos a todas!

Ana Téjo disse...

Dani,
Dizem os entendidos, que paixão é espelho. É o encantamento com as semelhanças, com o nosso reflexo no outro. Já o amor, mais maduro e profundo, é o reconhecimento do outro.
De uma forma ou de outra, é muito bom sentir. E muito precioso também estar em paz consigo mesma, como você parece estar.
Beijo,
JU...

Zagaia disse...

Tem que merecer mesmo pra estar do nosso lado! Mas eu ando numa fase ruim pra concordar!! Aparece!!
Bjos

Dani Marques disse...

Ju Geve,

Eu sei bem do que vc fala e sei distinguir exatamente qdo estou apaixonada ou quando amo... E, de fato, sentir é gostoso, né? Vc tem razão... Tenho estado em paz. Literalmente parei de ficar de mal comigo lutando contra coisas que eu não posso mudar...

Por que, Jú?
Com quê exatamente vc não concorda?
Tô sem tempo pra escrever e sem computador em casa :O
Mas vou lá no seu blog...
Bjo