sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Chega mais, chega mais...

Tinha cinco e estava no pré.

_ Olha o que sei fazer, falei despretensiosa para o menino X.

_ Noooossa!! – gritou ele, mais empolgado do que eu gostaria. _ Ela faz a parte amarela do lápis mexer.

É bom que se explique: eu tinha uma caixa com uns 237 zilhões de lápis coloridos. Lindos. Mas com defeito. A “mina”, o grafite - no caso, colorido – soltava dentro da casquinha. Eu então conseguia puxar pra lá e pra cá. Não é nada demais, mas aos cinco uma criança acha coisas assim muito divertidas. Eu achava. Pelo menos até aquela manhã...

_ Nooooooooossa! - Esperneou novamente o sequelado!
_ Que legal!! É muito legal mesmo! (Gente, esse menino tinha um problema, né???) – Pronto. Você agora é a minha namorada. Vou falar pra todo mundo que minha namorada é mágica.

_ O queeeeeeeeee?!?! - Quem perdia o controle era eu!
Se eu tivesse tido alguma reação além de quase explodir de tão vermelha, teria dito:
_ Que namorada o quê, seu palhaço! Quem você pensa que é? Só porque meu lápis se mexe?? Ele está com defeito, ô retardado! Não percebeu não, sua anta!! E além do mais, eu odeio meninos.

Ok, vocês sabem: EU NÃO SOU GAY. Mas, quando eu era criança, até uma certa idade, existia uma guerra dos sexos declarada. Hoje em dia, não. Com pouco mais de cinco tem gente já fazendo coisas que, na minha época, só aconteciam quando a gente já tivesse idade (ou pelos) suficiente.

Mas, tabus e referências (pré) históricas à parte, esse episódio me faz pensar nas coisas que fazemos na hora da conquista. Eu não queria conquistar aquele bocó. Mas se quisesse, ele estava no papo.

Por outro lado, quem dera hoje fosse fácil assim. Se vocês tivessem tempo, eu contaria aqui tudo o que já fiz para conquistar meninos. Para resumir, tirando coisas (muito) ilícitas, escândalos públicos e mudar de time, eu já devo ter ultrapassado o limite do razoável algumas vezes.

E não tem jeito. Quando eu me encanto por alguém, sai da frente! Eu gosto de paparicar quem está do meu lado. E sabe por quê? Sendo bem honesta mesmo, é porque espero que façam isso por mim. Sempre achei que quem dá demais, espera demais também. Eu dei muito. Normalmente dou muito mesmo (Não estou falando de sexo. Óbvio). E sabe o que tenho conseguido com isso? Humpft. Não que eu ache que só devemos dar na medida exata daquilo que recebemos. Não é assim. Só que não fui eu quem inventou isso. É da sua e da minha natureza: a gente também quer carinho e atenção. E uma massagem nos pés, por favor.

Aliás, este é um dos tantos recursos que usamos e um dos que eu mais gosto. Massagem nos pés, nas costas, no corpo todo, sempre ajuda. Mas quando apresentamos a ele nossas habilidades manuais, outras etapas já foram superadas. A massagem só ajuda a manter as coisas digamos, amaciadas. A coisa pega mesmo bem antes disso. Primeiro você conhece alguém por quem se interessa. E, se isso aconteceu, é bom que vocês tenham coisas em comum. Caso contrário, caia fora. Relacionar-se com as afinidades do outro já é difícil. Com as diferenças, então... Mas se existe sintonia não será sacrifício algum se aprofundar no universo dele. Isso também vai lhe agradar. Então, de repente, lá está você pensando em como e no que fazer. Você ouve as músicas “dele”. Lê os livros “dele”. Quer descobrir uma forma de conhecer os amigos e os lugares “dele”. E monta estratégias. E pensa, e começa de novo a investir neurônios “nele”. E mesmo quando tudo isso não dá em nada, você não aprende! Masjura que nunca mais vai ser assim, que agora chegou, que da próxima vez vai deixar “ele” te conquistar e pronto... É. Você é uma boba mesmo.

Mas agora pelo menos eu sou uma boba experiente. Vou continuar fazendo o que quero. Não me incomodo em me doar ou me entregar por um bom romance. Mas conquistar e ser conquistada já não é mais tão simples. Não tenho mais cinco (graças a Deus). Já cheguei aos 32 (ai!). E muita coisa aconteceu. Quando eu me interesso por um menino (homem), eu carrego aqui comigo tanta bagagem... É ela, a minha experiência, quem determina (e restringe fundamentalmente) as minhas escolhas. Mas definitivamente já aprendi que não é ela quem vai me transformar em outra pessoa. Só tenho sido mais cuidadosa (aleluia!).

E agora eu estou aqui. Usufruindo (tentando) de toda a maturidade que os anos me deram. Pois é, “jovens”. Tenham paciência. Em poucos anos, vocês vão lidar melhor com essa coisa que se chama Relacionamento, com muito mais segurança e menos fantasia*. E, na pior das hipóteses, você vai ter agregado as coisas boas, as músicas, os livros, as viagens, o mundo e bons hábitos de toda essa gente que passou pela sua vida. Você vai se tornando vários e ficando também cada vez mais interessante. Sorte de quem te encontrar.

Ai, mas antes de nos despedirmos, preciso confessar. Conquistar às vezes cansa tanto que às vezes, tenho vontade de encontrar aquela minha caixa de lápis defeituosos e testar se ainda encanta algum menino por aí. Ó vida.

* Não acreditem em tudo o que vocês leem (sem o ^ - viva o acordo ortográfico). A essa altura da vida e eu ainda não aprendi muito bem a evitar a fantasia. E, acreditem ou não, ainda me encanto por ele, o Homem Imaginário.

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