sexta-feira, 7 de outubro de 2005

Você melhor

Quinta à noite, relaxando depois de dias lotados, busco na TV por algo que possa me distrair. Encontro uma reprise de Melhor é Impossível. Melvin e Carol (Jack Nicholson e Helen Hunt) estão num restaurante numa primeira tentativa de um primeiro encontro. Ele é estranho e ela não fica muito atrás.

Tentando fazer com que ele pareça um pouco mais normal, Carol pede que lhe faça um elogio. Melvin então, começa a contar que no dia seguinte à sua visita, ele voltou a tomar as pílulas receitadas pelo médico. Pra quem não lembra, o personagem do Jack Nicholson era estranho crônico mesmo. Do tipo que precisa de remédio.

Sem entender o significado daquilo tudo, ela pede mais explicações. “Por você eu quero ser um homem melhor”. Simples assim, e forte assim. Carol fica literalmente de boca aberta e olhos marejados. Confesso que eu também.

Fiquei ali, por alguns instantes pensando em como é real isso de querer ser alguém melhor pra quem se gosta. Quando se está envolvido, a gente se cuida mais. Não só da embalagem. Também prestamos mais atenção em como nos comportamos na frente da pessoa, escolhemos as palavras que vamos usar e tentamos deixar transparecer só nossas melhores qualidades. Nada mais natural, né? Na tentativa de conquistar o outro, imaginamos que só a melhor versão de nós mesmos pode nos ajudar.

Eu, na verdade, acho ótimo esse processo. Você se doa integralmente e oferece tudo o que tem de mais legal. Para alguns pode até parecer entrega demais, mas eu acho que é honesto demais. Isso sim!

Mas comecei a avaliar também quando o outro não dá a mínima pra você e, em resposta, te oferece sua versão mais chinfrim. Vendo seu interesse, e não tendo intenção em retribuir, ele (ou ela) começa a ser uma pessoa pior pra você. É a total falta de sintonia.

Eu me pergunto se a pessoa acha mesmo que sendo assim vai se sair bem na tentativa de te fazer desencanar. De fato pode até te fazer esquecer, mas a que preço, né? Eu acho isso muito triste. Ninguém é obrigado a gostar. Mas também não vale te fazer desgostar na marra.

Por falta de coragem de deixar tudo às claras, ou talvez por puro descaso, a pessoa começa a ser uma versão às avessas de si mesmo. Se um dia foi gentil, atencioso e interessante, de repente começa a se mostrar mesquinho, indelicado e se iguala a um outro qualquer. É lamentável.

Não é nada simpático tentar transformar um sentimento legal em algo desagradável. Todo mundo um dia já deve ter passado por experiências assim e, provavelmente já esteve dos dois lados da história. Portanto, sabe bem como é.

Sendo assim, nunca escolha o caminho do descaso aparentemente mais fácil . Usufrua do seu dom de se comunicar, tente esclarecer tudo e, se não tiver interesse em retribuir àquele sentimento, lembre-se de como é estar do outro lado. E, por favor, seja ao menos gentil, ok?

9 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto, dã.

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar"
Eduardo Hughes Galeano, escritor uruguaio

Dani Marques disse...

Nossa!!!
Lindo, Tico! Eu não canso de caminhar. Ainda que faça bolhas e encha os pés de calos! :D

trela disse...

o descaso também pode acontecer quando o outro se mantem na estagnação. O tempo passa, e precisamos acompanhá-lo. O outro se propõe a mudar, a buscar um rumo, enquanto a outra parte já está muito à frente. No entanto, só fica na promessa. E, quando a sintonia vai se perdendo, some também o desejo de ficar junto.

Isa disse...

Show de bola esse texto, diz tudo...
Pena que muita gente não se coloca no lugar do outro, apenas magoa sem olhar pra trás...

Zagaia disse...

Lindo texto!! E pode ter certeza que quando vc quer se tornar um "homem melhor" é sinal que é meio pra sempre... assusta mas passa! abs

Anônimo disse...

É aquele velho ditado....
"não faça para os outros o que vc não gostaria q fizessem com vc".
Infelizmente, (entendam não estou generalizando) mas homens, em sua grande maioria, não sabem lidar com sentimentos.
Ainda mais sentimentos de outrem. Pensam que o desprezo é a melhor forma, qdo na realidade, só alimenta sentimentos ruíns. Uma conversa honesta, clara, aquele famoso "jogar limpo" é a melhor opção. Quem sabe de um ex/grande amor não nasce uma grande amizade?
Se todos tivessem a coerência de se colocar no lugar do outro, na situações que provocam, talvez teríamos menos sofrimento, menos discórdia, menos tristeza. É uma coisa para se pensar, não?

Anônimo disse...

Nossa menina, como me identifiquei com este seu post...Estava até pouco tempo passando por um processo parecido...Mas faz parte da vida e do aprendizado, não? Amadurecimeto quase sempre pressupõe um pouco ( ou muito!) de dor... Continue contribuindo o meu aprendizado como ser humano e como mulher..Seu blog é maravilhoso e nos ajuda a lidar com esses serezinhos difíceis: os homens!

Dani Marques disse...

Lia,
Eu também concordo que tudo seja um aprendizado. Não que eu não vá errar de novo, mas pelo menos vou ficando mais experiente ;)
Pode rolar alguma dor mesmo, mas não abriria mão de nada o que eu passei alegando que gostaria de não ter sofrido.
Fico feliz que goste do blog. Eu adoraria poder escrever com mais frequencia, mas meus dias estão malucos. De qualquer forma, apareça quando puder ;)
Bjos

Anônimo disse...

muito legal girl....é exatamente isso, grande parte das pessoas tem dificudades em receber amor. é como se esse amor fosse um peso grande demais ou como se a pessoa tivesse a obrigação de sentir o mesmo e já que não consegue sentir tenta a todo custo afastar de si essa imagem, esse peso...pior, na maioria das vezes quando sente que esse "peso" está se afastando, se desespera, sente como se estivesse perdendo e começa ter atitudes inversas as anteriores, pra caprichosamente ter a sua volta aquele olhar cuidadoso, aquela atenção e subordinação de quem o ama... isso não faz parte do universo masculino nem feminino, faz parte do ser humano...é assim mesmo, crescer dóe pacas. quase todos já passamos por algo parecido, com maior ou menor resignação, mas passamos... faz bem/mal...faz parte da vida e as vezes ela é muito pior...o mais importante é saber que quando nos apaixonamos transferimos para o outro as nossas espectativas, ou seja, nos apaixonamos por aquilo que é nosso, por nós mesmos e esperamos do outro esquecendo que cada um é um, e que cada um tem as suas próprias espectativas que na maioria das vezes também se transformam em decepção. mas ainda temos capacidade de conciliar as coisas. de achar um meio termo onde convivemos com aquilo que faz parte do nosso imaginário somente e aquilo que é real...nada como se apaixonar e saber por quem se apaixonou, conhecer defeitos e qualidades e não se assustar, simplesmente olhar tudo e tentar lidar com isso da melhor maneira, e saber que pra se apaixonar é preciso saber que somos os únicos responsáveis pelo nosso sentimento e que as vezes é preciso virar as costas e andar na contra-mão desse mesmo sentimento pois antes de nos apaixonarmos pelos outros é preciso nos apaixonarmos por nós mesmos....
um beijo no seu coração....