Na cama, ele tentava convencê-la de que talvez não fosse boa idéia. Não seria melhor acordar do lado de alguém que gosta de você? E disse mais. Amanhã nós não vamos nem andar de mãos dadas.
Ele tentou ser sutil, mas foi é muito claro. Ela ficou sem alternativas. Sabia que não compartilhavam sintonias. Ali na cama, sim. Mas era só. Aquela noite iria terminar como o momento sugeria. Os dois queriam. Mas no dia seguinte, nada mudaria, porque só um queria. No caso ela, é claro. Mas como ela era estranha o que ele acabava de falar o tinha feito ainda mais interessante.
Talvez ele não soubesse, mas sensibilidade e imagens sublimes a seduziam mais do que qualquer outra coisa. Dizendo aquilo abraçado a ela de modo até então inédito, ele a deixou completamente vulnerável. Em segundos, ela lembrou de coisas que falaram naquela noite incomum. No caminho ele reparou na Lua. E lembrou que noites atrás, ela estava enorme e pintada de dourado. Ela que leu muitos discípulos de Byron na adolescência, flutuou por um instante. Também tinha ficado hipnotizada olhando pro céu na tal noite. E desde sempre fantasiava estar olhando pra Lua no mesmo momento em que alguém de quem gostasse fazia a mesma coisa.
Ele contou ainda sobre um dia em que o Natal chegou mais cedo. A mãe acordou indisposta. A irmã e ele cuidaram de tudo. Da casa e da mãe. Satisfeito, o pai depositou um presente aos pés da cama de cada um enquanto dormiam. Foi o Papai Noel, disse o pai. E os pacotes só foram abertos depois da explicação e com a autorização do pai doce e rígido. Aquela história fez com que ela entendesse como ele tinha se transformado naquele homem. Sem planejar, ele a enfeitiçava.
Lá na cama e sem saber direito como tinham chegado ali, ela não encontrava um jeito de ser racional. Amanhã, sendo otimista, será como se nada tivesse acontecido. Ele vai continuar blasé e eu, querendo intimidade, querendo ficar perto e fazer a barba dele. Isso tudo, ela pensou enquanto já se beijavam.
Na manhã seguinte foi ele quem acordou ao lado de alguém que gostava dele. E ela, agora só pensa em arrumar uma forma de andar de mãos dadas com ele um dia desses. É... Não adiantou nada avisar.
domingo, 4 de setembro de 2005
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3 comentários:
é incrível como esse texto tem poesia... é fácil sentir junto as emoções da autora.. lindo!
Essa situação é muito real para mim. Lindo texto!
Impressionante!
Apenas impressionante.
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