terça-feira, 27 de setembro de 2005

Moreno

A pessoa vai ficando mais exigente com o tempo. Não tem jeito. Ainda que enfrente “acidentes de percurso” e se envolva com alguém totalmente fora do perfil, todo mundo vai criando seu modelo ideal e sai pela vida em busca dele. Tira isso, põe aquilo... Deleta de vez alguns defeitos abomináveis, mas até aceita alguns que dão um certo tempero pra qualquer história com jeitão de vida real. Todo mundo é assim! Com ela, portanto, não é diferente.

Quando adolescente, seu “tipo ideal” era moreno. E ponto. Conheceu até alguns loiros, mas pôde confirmar que o que gosta mesmo é de um moreno. Não me pergunte o porquê. Aliás, nem a mim e nem a ela. Não saberíamos responder. Mas ainda que seus critérios para definir o modelo ideal fossem até então, superficiais, este “quesito” a acompanharia pelo resto da vida.

Os anos e as paixões adolescentes foram passando e ela foi adicionando alguns critérios ao perfil que ia criando. E já não era só a embalagem a sua preocupação. Conteúdo. Ela tinha chegado, definitivamente, em questões mais profundas. É bem verdade que no começo, profundidade para ela poderia se resumir ao gosto musical, por exemplo. Rock’n roll, no caso. Pode parecer bobeira hoje em dia, mas quando se tem 15 anos, é fundamental compartilhar uma banda e um guitarrista favoritos. Pelo menos, ela achava. Aliás, descobriu cedo que essa história de opostos que se atraem só funciona com os imãs mesmo.

Conforme ia amadurecendo, características realmente importantes seriam incorporadas ao tal perfil. Ela, que começou a votar logo aos 16 anos e pintou a cara pra passear na Paulista com as amigas e ajudar a “empichar” o Collor, tinha certeza que mais dia, menos dia, se apaixonaria por um petista. Sendo assim, no dia em que um amigo do cursinho a convidou pra matar aula e acompanhar um comício da Erundina, ela viu que estava perdida. Ficaria amarrada àquele esboço de revolucionário e passaria anos querendo se enroscar nos seus cachinhos.

Ah! Outra coisa importante é que a pessoa vai “emprestando” características legais de um e tentando encontrá-las em outros pelo caminho. Cachinhos por exemplo, foram quase uma obsessão por muito tempo. Até que, depois de anos, reencontrou o menino do comício. Ele já não tinha mais aquele cabelo fofo e estava grisalho. Ou seja! Esta poderia ser uma alternativa a se considerar.

Mas no tal reencontro, ela se tocou que a essência dele continuava a mesma. Não! Eles não foram a uma reunião do partido. Como pessoas normais, foram a um barzinho. Foi durante um papo despretensioso... Ele falou umas coisas que a fizeram perceber que mesmo com alguns cabelos brancos e curtinhos, ele ainda era o mesmo.

Aí ela entendeu que o que a atraía não era um sorriso legal ou o cabelo deste ou daquele jeito. Talvez nunca tenha sido. Ela gostava mesmo era de meninos bons. Ainda que seja para tomar uma cerveja no bar, ou para enroscar os pés embaixo do cobertor (ou as duas coisas, quem sabe?), ela acha que o cara tem que ter caráter e princípios, sabe? Tudo bem que namorou um loiro malufista, mas mesmo ele tinha alguns valorezinhos. Ah!! Mas espera aí! Malufista é demais!! – você poderia dizer. Ela até hoje se defende dizendo que foram só três meses. No fundo, no fundo, eu sei que ela acha que foi tempo demais! Mas tudo bem... Lembra dos “acidentes de percurso”? Todos estamos sujeitos.

Hoje ela tem um modelo ideal under construction, digamos. Ela continua incorporando umas coisinhas aqui, abrindo mão de outras ali, até porque sabe que por ser ideal, ele está lá – no plano das idéias. E enquanto estiver só na busca, ela pode imaginar o que bem entender. Pode desejar por exemplo que, além de petista, ele também esteja confuso, porque se estiver colocando as duas mãos no fogo pelo partido, ela pode achar que ele é louco.

Além disso, ele tem que gostar de cinema, de Chico Buarque - além do rock, de chocolate, de vinho branco, de creme de milho, de criança, de cachorro, de gato, de passarinho (voando), de praia tranquila, de montanha, de massagem, de dormir abraçado, de beijar, de fazer e receber cafuné, de dirigir, de conversar e de ficar quietinho também. E precisa saber lavar louça e gostar de cozinhar, também seria ótimo. E que seja sãopaulino, anota aí – ela pede.

Bom, apesar de tantas exigências, ela admite que topa fazer algumas concessões. Mas, por favor! Que seja moreno! – lembra. Hum... Olha, não sei não, mas depois disso, me pergunto se realmente, a pessoa vai ficando mais exigente com o tempo. Será?

6 comentários:

Anônimo disse...

ai ai, tô adorando esse seu blog.
Claro que eu já sabia que vc escreve bem, afinal somos irmãs, eu vi isso aflorar em vc. Mas vc tá se superando. Criou neste blog um estilo próprio, delicioso, mulher sem ser mulherzinha, romântico sem ser piegas. Tá luxo! Continue a escrever e nos dar esse presente.

Love!

Anônimo disse...

...viu i link no meu nome? hihihi

Anônimo disse...

O que acho engreçado é que sempre temos tipos ideais e sempre acabamos com o opsto deles, hehe. Acho que é algum tipo de humor negro do destino.

Dani Marques disse...

Rê,
Esse talente é genético! rsrsrs
Que bom que vc está gostando. Td bem q é a minha irmã e sua opinião é meio suspeita, mas confio no seu bom gosto!! :D (adorei o xaufilha.com)

Ronzi,
A gente tem que "rever conceitos". Se sempre nos envolvemos com opostos, alguma coisa está errada. Eu acho que passamos muito tempo da vida nos boicotando. Um dia, temos que virar esse jogo. Que seja logo e que seja bom.

Bjo

trela disse...

é isso, eu sou seletiva.
meu primeiro namorado já era moreno. o segundo, galego, apesar de sempre ter na mente que homens loiros não são de confiança. Hoje eu quero uma mistura dos dois. Um pouquinho do meu moreno e outro pouquinho do galego, acrescentando obviamente algumas novidades. no entanto, a preferencia continua: gosto mesmo é dos morenos.

Anônimo disse...

38 anos fazendo jornalismo, 26 anos fazendo ciências sociais e menciona gostar de "meninos bons".

Créditos ao bom e velho Renatinho.

Beijo,
Renatão